Esta tarde, Alfonsina Storini, narración Toni Martin.

Poemas de Amor - Un pódcast de Histórias extraordinarias

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A poeta Alfonsina Storni (1892-1938) é dessas figuras fundamentais que acabaram pouco circulando no Brasil e nunca foram traduzidas em livro por aqui. Nascida no cantão Ticino, ao sul da Suíça, onde se fala italiano, seus pais migraram com ela para a Argentina em 1896, quando tinha quatro anos. Antes, Paulina e Alfonso, os pais, já haviam passado uma temporada na província de San Juan, perto da cordilheira, aonde os irmãos de Alfonso haviam ido para instalar uma fábrica de gelo, água com gás e cerveja. A cerveja Los Alpes teve, por alguns anos, relativo sucesso na região. Alfonso, no entanto, não era propriamente um homem empreendedor: de uma família de comerciantes, destoava, era dado ao recolhimento e estava deprimido. É preciso dizer que Storni, ao longo de sua obra, escreve de muitos modos, por distintas escolhas estéticas, e não por falta de escolha: escreveu e publicou um livro de sonetos aos quais ela chamava de anti-sonetos muitos anos antes dos anti-poemas de Nicanor Parra (Máscara e trevo, 1938), um livro de poemas em prosa (Poemas de amor, 1926), tendo exercitado a poesia rimada e os versos brancos desde seu primeiro livro. O potencial de ruptura estética e temática em sua obra levou mais recentemente a autoras como Delfina Muschietti a qualificar Storni como uma das autoras pertences ao que ela chama de “a outra vanguarda”, isto, é um grupo de poetas que ficou à margem dos cânones estéticos do grupo da revista Martín Fierro, capitaneada por Borges e Evar Méndez, que terminaram por ditar o quer era o “novo” e o que deveria permanecer. A singularidade de Storni, de ser migrante estrangeira na Argentina, de ser mulher num campo cultural então dominado por homens, de se mover com desenvoltura entre a alta sociedade portenha e os meios anarquistas, de não partilhar dos cânones vanguardistas e de se declarar ateia tornaram a recepção de sua obra particularíssima. Se por um lado era reconhecida como uma das maiores poetas em seu meio – foi premiada, publicada em Madri, traduzida ao francês e ao italiano em vida -, por outro era objeto de preconceitos de gênero e classe social. Relê-la no Brasil de 2020 é fundamental, pois nos permite pensá-la duplamente: tanto em relação ao nosso começo de século quanto em relação aos nossos dias atuais, quando a boçalidade generalizada e os preconceitos os mais diversos recrudescem. Alfonsina Storni é para nós, mais que nunca, uma poeta necessária